domingo, 16 de março de 2008

BRINCRIAÇÕES

o perfume da tâmara do cominho do gengibre

o perfume da tâmara do cominho do gengibre
tisanas doiradas sem peso flutuando
contra a melancolia das gripes cozem-se folhas
num taça com duas gemas, pau de canela e uma colher
de mel debaixo das pagelas dos santos santa mónica
santa angélica são vicente acordo no meio
da noite não percebo do que falam oiço palavras
diferentes daquelas que as pessoas escutam

uma fita de veludo de atar ao pescoço
amores perfeitos ressequidos um envelope onde o tempo
a minha avó da mesma idade que eu
um sítio onde pudéssemos brincar o tempo
as rolas um frémito
uma agitação mansa de papo dilatado cantando para a luz

não percebem o que eu percebo
eu sem peso flutuando com os estames prateados
devorada pelas buganvílias

sem peso flutuando o perfume da tâmara do cominho do
gengibre





espera só um instantinho que cresça e caso contigo

foi um dos bichos da prateleira que me trouxe para aqui
ou então as bruxas ou então os lobisomens para me ajudar
a atravessar a noite

ofereces-me um guarda-chuva de chocolate
que aceito logo e uma carta um postal por entre as gavetas
cheias de tesouros preciosos
diários restinhos de lápis - espera
um instantinho que cresça e caso contigo -
uma desarrumação ardente eu a acender o abajur
a desenroscar a lâmpada
a apagar o mundo
uma corrida ao pé coxinho daqui até ali
começa primeiro que eu ganho
sinto que abrem devagarinho a porta
tal como nos sonhos
não consigo correr
os sapatos pegados ao chão seguro a lâmpada de
aladino a oscilar

o mundo

coloco-a na almofada ao meu lado
a casa fecha logo a boca
espera só um instantinho que cresça e caso contigo

sem que nada more para além do escuro





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